Doze anos após presenciar o assassinato do pai, o advogado Geraldo Xavier de Faria Júnior, de 24 anos, atuou como assistente de acusação no julgamento dos dois responsáveis pelo crime. O júri popular aconteceu no dia 10 de junho, e condenou Valdete Xavier de Faria, primo da vítima, e Luzirene Ribeiro Miranda, esposa de Valdete, a 16 anos, sete meses e 15 dias de prisão cada um, pelo homicídio qualificado de Geraldo Xavier de Faria.
O crime ocorreu em 26 de março de 2013, em Alto Boa Vista (MT), quando Geraldo Júnior tinha apenas 12 anos. Ele presenciou o pai ser morto com um tiro na perna, disparado por Valdete, motivado por uma dívida relacionada a terras, que nem era do pai da vítima.
No dia do crime, Valdete e Luzirene chegaram à casa da família com comportamento suspeito. Após uma breve conversa, Valdete sacou uma arma e atirou. A mãe do garoto tentou impedir novos disparos, enquanto Luzirene segurou o menino para que ele não escapasse. O tiro atingiu a veia femoral da vítima, que correu por cerca de 60 metros antes de cair sem vida.
O motivo do crime foi uma disputa por terras. Valdete culpava o primo pela perda de uma propriedade, mesmo após ele ter tentado intermediar o problema e até pagar parte da dívida. No dia do homicídio, faltavam apenas R$ 30 mil para quitar o valor, que seria pago com a venda de gado horas depois.
Geraldo Júnior escolheu o curso de Direito para buscar Justiça pelo pai. Ele iniciou a faculdade em 2019 e se formou no dia 26 de março – mesma data em que perdeu o pai, também em uma terça-feira. Ele acredita que foi um sinal de que o pai estava presente espiritualmente nesse momento.
Durante o júri, o advogado relembrou tudo o que viveu. Disse que sua mãe foi essencial em sua criação e destacou que nem ela nem ele desejavam vingança, mas sim Justiça. “Não vai mudar todo o mal que fizeram, mas esquenta o coração ver que não ficou impune”, disse.
Essa foi a primeira vez que ele atuou como assistente de acusação, experiência que considera a mais difícil da carreira. “Acredito que se não fosse a minha sustentação e todos os detalhes que só quem viveu poderia saber, talvez não tivesse acontecido essa condenação.”
O promotor de Justiça Thiago Matheus Tortelli, que atuou no caso, classificou a experiência como única. “Doze anos após o crime, o filho da vítima, hoje advogado, retorna ao Tribunal não como testemunha, mas como assistente de acusação. Foi exemplar”, afirmou.
Geraldo Júnior cresceu em Alto Boa Vista, e atualmente mora em Goiás, onde estudou Direito. Mesmo residindo fora do estado, segue atuando em causas em Mato Grosso.