Apesar de avanços tímidos nos últimos 12 anos, a infraestrutura urbana de Mato Grosso ainda falha gravemente no quesito acessibilidade. Segundo os dados recém-divulgados pelo Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas dois dos 141 municípios do estado têm mais da metade da população residindo em vias com rampas de acesso para cadeirantes: Campos de Júlio, com 66,8%, e Nova Mutum, com 63,3%.
A média estadual, embora superior a de 2010, continua alarmantemente baixa: somente 22,4% dos moradores vivem em ruas com ao menos uma rampa, índice que, embora represente um crescimento de quase 650% em 12 anos (eram 3% em 2010), ainda expõe a negligência histórica com as necessidades das pessoas com mobilidade reduzida.
O município de Novo Santo Antônio simboliza o extremo oposto, sendo o único do estado sem qualquer registro de moradores com acesso a rampas, segundo o levantamento do IBGE.
Cidades-polo se destacam, mas não escapam da exclusão
Entre os grandes centros urbanos com população superior a 100 mil habitantes, Rondonópolis e Sinop aparecem em destaque nacional, figurando entre os 15 maiores índices do Brasil nesse quesito, com 42,2% e 38,8%, respectivamente. Ainda assim, esses percentuais revelam que mais da metade da população dessas cidades vive sem infraestrutura mínima de acessibilidade.
A nível nacional, apenas 15% dos brasileiros vivem em vias com rampas. Em 2010, essa proporção era de 4%. Ou seja, mesmo com o crescimento, mais de 119,9 milhões de pessoas ainda vivem em ruas sem qualquer estrutura para cadeirantes.
Mato Grosso também apresenta contraste no acesso a calçadas
No quesito calçadas, os dados do Censo também revelam uma realidade contraditória: Mato Grosso é o 2º estado com maior proporção de moradores vivendo em vias com calçadas livres de obstáculos – 27,4% da população, o que representa 846.380 pessoas. Fica atrás apenas do Rio Grande do Sul (28,7%).
Entretanto, há fortes desigualdades internas. Enquanto municípios como Porto Alegre do Norte (99,1%), Alto Taquari (98,5%) e Santa Cruz do Xingu (98,2%) lideram com quase universalização do acesso, cidades como Bom Jesus do Araguaia (0,5%), São José do Povo (0,7%) e Jangada (1%) praticamente não oferecem nenhuma infraestrutura básica para pedestres.
Três municípios mato-grossenses registraram 100% da população morando em ruas com calçadas: Santa Cruz do Xingu, Santa Carmem e Porto Alegre do Norte. Já Colniza (6,6%), Cotriguaçu (7,6%), Planalto da Serra (12,5%) e Porto Estrela (14,7%) mostram índices inaceitáveis de ausência de calçadas no entorno dos domicílios.
Avanço parcial, exclusão estrutural
No total, 82,7% da população de Mato Grosso (2.557.559 pessoas) vive em ruas com calçadas, número mais que o dobro do registrado no Censo 2010 (40,1%). Ainda assim, apenas 18,8% dos brasileiros que moram em áreas com calçadas têm essas vias livres de obstáculos, segundo o levantamento. Ou seja, a maioria das calçadas está obstruída por postes, entulho, degraus ou outros elementos que impedem o trânsito seguro de cadeirantes e pedestres com mobilidade reduzida.
A Região Nordeste domina o ranking de calçadas em vias urbanas: cinco dos dez estados com maiores percentuais estão lá. O Distrito Federal lidera nacionalmente com 93% de cobertura. Em contrapartida, o Amapá aparece como o estado mais defasado, com apenas 57%.
As cidades do interior paulista, como Buritizal, São Francisco e Dolcinópolis, registram 100% da população com acesso a calçadas, demonstrando que a universalização é possível — e que a ausência nos demais locais reflete prioridades políticas e não limitações técnicas.
A acessibilidade urbana, segundo o IBGE, vai além de uma obrigação legal — ela é essencial para garantir segurança, dignidade e participação plena na vida social. Os dados do Censo 2022, ao escancarar as desigualdades entre os municípios e os estados, colocam pressão sobre os gestores públicos e apontam para a urgência de investimentos estruturais inclusivos.
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🎥: Fonte | g1