A professora Patrícia da Silva Cosmos, de 40 anos, já convive há seis anos sem a mãe, morta em Sorriso (MT) por seu primo, em crime que chocou o país. Nos últimos dias, ela ainda foi obrigada a ter de passar a conviver com a notícia de que Lumar Costa da Silva, de 34 anos, que arrancou o coração da vítima e o enviou, recebeu alta médica e agora está livre.
“Não foi uma surpresa, já esperávamos. Desde que foi provado que ele tinha problemas mentais, nossos advogados nos colocaram a par dessa possibilidade. Estávamos naquele medo, terror de que esse dia chegaria e, infelizmente, chegou”, disse.
Segundo Patrícia, enquanto Lumar estava internado no Hospital Adauto Botelho, em Cuiabá, ela e a família tentavam viver uma vida “normal”. Com ele em liberdade, mesmo que em São Paulo, o medo agora vai passar a conviver com todos.
“Temos que dobrar o cuidado, viver como se eu fosse a prisioneira. A verdade é essa: me sinto como se agora eu fosse a presa. Tenho medo, pânico. Dormir agora ninguém dorme mais. A gente vai cochilar, porque dormir mesmo, há três noites eu não durmo”.
Qualquer barulho estranho ou pessoa parecida com Lumar que Patrícia encontra na rua, ela já teme ser ele. “É nesse terror que estou vivendo agora. Ele pode estar longe, mas não sei até quando. Ele é muito inteligente, já demonstrou isso, e fez ameaças na época do crime de que iria sair da cadeia e voltaria para arrancar o coração de todos nós”, afirmou.
“Não tenho mais paz. Acabou! Mais uma vez volto a viver naquele terror, naquele pânico. Ele me tirou a minha mãe, a pessoa mais importante para mim. Tenho que conviver com a dor de tudo que presenciei, que vi e nunca vou esquecer, nunca vai sair da minha cabeça. E, agora, também com o medo dele estar por aí”, disse.
O crime
O crime aconteceu em 2 de julho de 2019, na residência de Maria Zélia da Silva Cosmos, de 55 anos. Lumar matou a tia, com quem convivia, arrancou seu coração e andou por três quadras para entregar o órgão a Patrícia, que estava com os três filhos pequenos em casa e presenciaram toda a cena.
“Ele me entregou e falou: ‘Matei a sua mãe, toma o coração dela’. Costumo dizer que naquele momento Deus estava comigo, me dando discernimento para não apavorar ainda mais as minhas crianças, que infelizmente viram o coração da minha mãe. A força e coragem que eu tive foi sobrenatural”, disse.
Patrícia temeu reagir e ser morta ao lado dos filhos e, até aquele momento, ela disse ainda não ter acreditado que ele tivesse matado sua mãe. Lumar fugiu dizendo que atearia fogo na subestação e que iria “apagar aquela cidade e libertar os presos na cadeia”, recorda Patrícia. “Foi isso que ele falou, coisa de gente louca, psicopata”, completou.
Já na delegacia, o auto da atrocidade disse à imprensa não se arrepender do que tinha feito. Agora, com medo de que Lumar cumpra as ameaças que fez, Patrícia pensa em sair de Sorriso. “Eu não quero mais voltar a ficar frente a frente com ele. Só peço que me deixe viver em paz, porque não fiz nada pra ele e já sofri demais. Que ele siga sua vida, se arrependa do que fez e procure o perdão de Deus”, disse.
De acordo com informações veiculadas na imprensa nacional, Lumar passará a cumprir medidas de segurança com acompanhamento no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de Campinas (SP). Laudos médicos teriam atestado a “estabilidade clínica do paciente”.